Para um partido, a eleição está tão garantida quanto maior for o número de indecisos convencidos antes da votação. Por outras palavras, a certeza da vitória é tanto maior quanto mais a opinião pública estiver a seu favor, pois parte-se do princípio de que ela expressa o que pensa e fará o conjunto dos eleitores.
Portanto, uma boa imagem do futuro é o iman para atrair votos. A ferramenta que constrói essa imagem chama-se notícia. O conjunto sequencial de notícias constitui uma campanha. Deste modo, os pregoeiros ao disseminar notícias são a coluna vertebral da campanha (antes, durante e depois), daí o seu poder.
I - Génese do bug
A - Introdução
B - Janela de percepção
II - O bug e os Ilusionistas
III - Conclusão
Não trocar os pés
I - Génese do bug
A - Introdução
Uma notícia é [... eu saber, aqui e agora,
o que aconteceu lá, onde eu não estive].
|
Isto quer dizer que uma notícia pressupõe sempre um intermediário que dá essas informações através de um relato. Como é óbvio o relato depende sempre de quem o construiu em função do que seleccionou e da “arrumação “ que lhe deu.
Convém nunca confundir o mapa com o terreno, pois o mapa indica mas, não é o real, é uma sua imagem. Do mesmo modo, convém não confundir notícias com acontecimentos. Notícias são relatos, são imagens de pedaços do real, não são a realidade que tem milhares de características.
Porém, por hábito de raciocínio, notícias e realidade coincidem, essa coincidência cria as certezas em que se baseiam as decisões.
Como exemplo, imagine que a viagem ao futuro é possível e que, depois quando regressa, na vida real tudo sucede exactamente como viu.
Porém, por hábito de raciocínio, notícias e realidade coincidem, essa coincidência cria as certezas em que se baseiam as decisões.
Como exemplo, imagine que a viagem ao futuro é possível e que, depois quando regressa, na vida real tudo sucede exactamente como viu.
No dia de aniversário, resolve ir ao futuro observar a família daí a um ano. Chegado lá, vê o seu pai, triste e sozinho numa sala, lendo no jornal a notícia da sua morte num desastre de automóvel no dia anterior.
Regressado ao presente, das três alternativas abaixo descritas, escolha a(s) certeza(s) que tem para um ano depois:
a - que a sua mãe já morreu;
b - que você morreu no dia anterior;
c - que sua mulher e filhos estão vivos.
Já escolheu? Quais são?
Qualquer que seja a escolha feita, ela está errada pois nenhuma dá certezas. Na verdade, não sabe o que aconteceu a si, nem à sua mãe, mulher e filhos. A única certeza que tem é que a notícia da sua morte saiu no jornal, mas não sabe se reflecte, ou não, a realidade.
Qualquer que seja a escolha feita, ela está errada pois nenhuma dá certezas. Na verdade, não sabe o que aconteceu a si, nem à sua mãe, mulher e filhos. A única certeza que tem é que a notícia da sua morte saiu no jornal, mas não sabe se reflecte, ou não, a realidade.
Em conclusão, notícias concretas e objectivas não significam factos concretos e objectivos, significam apenas "pensares" de um relator, seja ele o jornalista credenciado, o vizinho da esquina ou a bilhardeira do bairro. A diferença entre eles está no nível de credibilidade que possuem na mente do receptor e, qualquer que seja a sua intensidade, não altera o nível de veracidade da notícia. A credibilidade e a veracidade não têm uma relação directa.
Na prática, a credibilidade pode nascer por duas vias: credulismo ou lucidez,
ou seja, a difusão social e política da notícia pode inserir-se nas "...vagas de crenças e mitos ou na "clearance" (depuração, limpeza) de factos e raciocínios", pois a notícia, como elemento social por excelência, alimenta-se e adapta-se à dominância cultural existente.
Sociologicamente, a análise do rumor, seu conteúdo, características e uso, é um bom "termómetro" para sinalizar a intensidade de credulismo ou de lucidez da cultura de uma comunidade.
No caso da notícia, a sua credibilidade pode ser suportada pelo rigor com que o leitor avalia os detalhes e analisa o conteúdo, quer ela seja acompanhada, ou não, de grande reputação da sua origem. A credibilidade baseia-se na lucidez do receptor e não no prestígio da origem.
Como é óbvio nesta alternativa, as redes socais são uma fonte de informação válida pelas "pistas" fornecidas a serem confirmadas e não aceites de imediato.
Outra alternativa é a credibilidade da notícia ser obtida por colagem à credibilidade da fonte, isto é, "se a origem é esta, então a notícia é válida" e "se a origem não tem credenciais, então a notícia é lixo".
Segundo alguns autores, esta técnica induz um padrão de preguiça mental (lazy thinker), aceitando, acreditando e usando a "voz dos deuses", os VIP´s e os credenciados. Quando, não há um "deus a falar" a notícia não interessa, são apenas resmungos de gentinha/ralé (riffraff grumbling).
Em consequência, neste caso, as redes sociais são consideradas uma espécie de "perigo" cultural que fomenta conclusões erradas. Só se deve ler a "cartilha oficial", pois usar outras informações é perigoso.
Como ilustração, um pequeno vídeo de uma origem que gosto e admiro, "Os gatos fedorentos", mas apesar disso discordo da mensagem de defesa da credulidade:
B - Janela de percepção
Na prática, a credibilidade pode nascer por duas vias: credulismo ou lucidez,
ou seja, a difusão social e política da notícia pode inserir-se nas "...vagas de crenças e mitos ou na "clearance" (depuração, limpeza) de factos e raciocínios", pois a notícia, como elemento social por excelência, alimenta-se e adapta-se à dominância cultural existente.
Sociologicamente, a análise do rumor, seu conteúdo, características e uso, é um bom "termómetro" para sinalizar a intensidade de credulismo ou de lucidez da cultura de uma comunidade.
No caso da notícia, a sua credibilidade pode ser suportada pelo rigor com que o leitor avalia os detalhes e analisa o conteúdo, quer ela seja acompanhada, ou não, de grande reputação da sua origem. A credibilidade baseia-se na lucidez do receptor e não no prestígio da origem.
Como é óbvio nesta alternativa, as redes socais são uma fonte de informação válida pelas "pistas" fornecidas a serem confirmadas e não aceites de imediato.
Outra alternativa é a credibilidade da notícia ser obtida por colagem à credibilidade da fonte, isto é, "se a origem é esta, então a notícia é válida" e "se a origem não tem credenciais, então a notícia é lixo".
Segundo alguns autores, esta técnica induz um padrão de preguiça mental (lazy thinker), aceitando, acreditando e usando a "voz dos deuses", os VIP´s e os credenciados. Quando, não há um "deus a falar" a notícia não interessa, são apenas resmungos de gentinha/ralé (riffraff grumbling).
Em consequência, neste caso, as redes sociais são consideradas uma espécie de "perigo" cultural que fomenta conclusões erradas. Só se deve ler a "cartilha oficial", pois usar outras informações é perigoso.
Como ilustração, um pequeno vídeo de uma origem que gosto e admiro, "Os gatos fedorentos", mas apesar disso discordo da mensagem de defesa da credulidade:
B - Janela de percepção
Na linha do pensamento de Piaget, quando um coelho come um repolho, não é o coelho que se transforma em repolho, é o repolho que se transforma em coelho.
Isto significa que, quando alguém adquire uma informação (ver, ouvir, viver, etc...), a pessoa incorpora, digere e adapta essa informação a si próprio.
In brevis, o receptor transforma a informação nele e não é ele que se transforma na informação. Deste modo, quando a retransmite ela já não é a informação recebida, mas sim a informação adaptada a si próprio. O "facto-do-relator" passou a ser o "facto-interpretado-pelo-receptor".
Como ilustração, os factos apresentados num mesmo dia por sete jornais, depois de filtrados (bottleneck) por suas selecções, prioridades, objectivos, etc, e destinados a serem pensados pelos seus leitores:
As primeiras páginas de jornais do dia 24 Julho 2015 |
Como se vê as primeiras páginas são todas diferentes, cada jornal dá uma parcela do real, adaptada à sua "agenda pessoal", pois o texto, tamanho, disposição, imagens, etc, são escolhidas em função de significados próprios de cada redacção. Este processo não é uma falsidade, é a própria natureza da notícia que o exige pois "o relator faz parte do relato".
Por sua vez, o significado detonado no leitor por cada notícia depende do seu pensar ao "encaixá-la" no que já tem em arquivo ou, parafraseando Piaget, por "digeri-la" ou, mais tecnicamente, por construir a sua compreensão.
Por sua vez, o significado detonado no leitor por cada notícia depende do seu pensar ao "encaixá-la" no que já tem em arquivo ou, parafraseando Piaget, por "digeri-la" ou, mais tecnicamente, por construir a sua compreensão.
Com esta intrusão, imprescindível mas "intrusiva", surge um quarto poder - o massmedia - que, como redactor, produtor e difusor da notícia, interfere na vida sociomental da comunidade.
Como exemplo, o sorriso da personagem na capa de uma revista fomenta significações diferentes em função de "designs" diferentes:
Como exemplo, o sorriso da personagem na capa de uma revista fomenta significações diferentes em função de "designs" diferentes:
A transformação da personalidade em notícia "A" ou "B" |
A alteração da paisagem de cemitério para jardim altera o significado do sorriso. A diferença não é uma questão estética, é uma questão de "controlo do significado" comunicado.
Esta intrusão do noticiador com a sua multifunção de redactor-produtor-difusor dá-lhe o papel social de "cirurgião" da opinião pública. Ele, apesar de não ser eleito, adquire um poder interventor bastante eficaz na gestão da democracia (ver vídeo final).
Esta intrusão do noticiador com a sua multifunção de redactor-produtor-difusor dá-lhe o papel social de "cirurgião" da opinião pública. Ele, apesar de não ser eleito, adquire um poder interventor bastante eficaz na gestão da democracia (ver vídeo final).
No debate TV, Passos Coelho versus António Costa, em 9 Set. 2015, a "paisagem" em que ambos apareceram, provocou "sentires" diferentes no clima de audição de suas palavras:
Uma pergunta interessante: como e onde estavam as câmaras TV??? |
António Costa fala dentro de um mundo de luz e cor, nitidamente "realçado" na paisagem atractiva, com câmara frontal e seu efeito de "olhos nos olhos" com o telespectador (confirmando-o?).
A audiência saltitando de um para o outro, acompanha o significado cognitivo das frases com o significado afectivo de imagens diferentes. Passos Coelho no estilo "longe de vocês" e fugidio no fundo neutro e António Costa no estilo "próximo de vocês" e presente no fundo agradável.
Estas pequenas diferenças de contexto podem parecer não importantes, mas todos sabemos que pedidos de casamento se fazem acompanhados de valsas com violinos e nunca de marchas militares com tambores. Os detalhes são fundamentais diz a regra número um de qualquer folheto sobre propaganda, estratégia e/ou comunicação.
Como teste, se espectadores exteriores analisarem as fotos deste debate para diagnóstico do mais activo e mais "cozy" (acolhedor, conversador), as opções não serão difíceis.
Ainda como reforço, repare-se na imagem "shining" (brilhante, resplandescente), cheia de luz e cor, e atitude "cozy", do profissional TV:
Convém salientar que as diferenças descritas não significam necessariamente um manipulador, podem ser apenas o resultado de um fluir de opções "naturais" que foram feitas, mas essa naturalidade não nega a manipulação da mensagem.
Não confundir falta de manipulador com falta de manipulação, a gravidade não tem manipulador mas faz o mais pesado cair, ...todavia os aviões voam, ou seja, o ser natural não é um determinismo é só um ponto de partida.
Até aos finais do século XX, os noticiadores estavam em hegemonia, só dependendo das lutas de poder dentro da "guilda" das notícias. Porém no séc XXI, com a internet leak's, redes sociais, blogs, fóruns, etc, esta "guilda" perdeu a hegemonia.
Não confundir falta de manipulador com falta de manipulação, a gravidade não tem manipulador mas faz o mais pesado cair, ...todavia os aviões voam, ou seja, o ser natural não é um determinismo é só um ponto de partida.
Até aos finais do século XX, os noticiadores estavam em hegemonia, só dependendo das lutas de poder dentro da "guilda" das notícias. Porém no séc XXI, com a internet leak's, redes sociais, blogs, fóruns, etc, esta "guilda" perdeu a hegemonia.
O Factor Crítico de Sucesso de todo este funcionamento é o indivíduo. Na verdade, "...sem observador não há facto a noticiar" e "...sem leitor não há notícia". Assim, ter-se-á dois processos acoplados:
A - As notícias resultam da simbiose da "Situação com o Observador". Em esquema:
Situação mais relator = notícia |
No exemplo, a situação "cão e gato juntos" pode ser interpretada de modos diferentes. Para um relator o facto é o "cão em cima de gato" e origina a notícia "cão a dormir esmaga gato", pois considera o gato "esborrachado" pelo cão.
Porém, para outro relator o facto é "gato debaixo do cão" e origina a notícia "gato com cão ao colo", pois considera o gato "aninhado" e acarinhando o cão.Em conclusão, a mesma situação com dois relatores de perspectivas diferentes, produz duas notícias diferentes, não só porque vêem situações diferentes (cão por cima ou gato por baixo) e com significados diferentes (agressão ou carinho).
A realidade é um mundo de diferenças, a igualdade são abstracções para facilitar arrumações mentais, nunca há duas árvores iguais, duas flores iguais, dois cães iguais, dois lápis iguais, etc.
B - As opiniões resultam da simbiose "Notícia mais Leitor". Em esquema:
Notícia mais leitor = opinião
Notícias diferentes fomentam opiniões diferentes. A notícia "cão a dormir esmaga gato" atrai a opinião pública de que é preciso cuidado com cães grandes e bebés, mas a notícia "gato com o cão ao colo" sugere que gatos ao pé de bebés é bom.
Convém salientar que a consequência cultural não tem esta simplicidade. Na verdade, a variabilidade e complexidade são sempre grandes pois há muitos factores em jogo, tais como informações prévias, experiências, crenças, cultura, referências de cada leitor, etc.
Neste sentido, a regra da propaganda diz que a notícia a veicular deve ser pensada em função das "janelas de percepção" da generalidade dos leitores e não a partir da imagem e das qualidades do que é proposto para ser compreendido.
Em resumo, a notícia deve ser susceptível de inserir o desejado "...na mente do leitor, através das suas "janelas de percepção". Exemplo:
Dizia o vendedor:
- Com este carro consegue chegar a Paris em 24 horas!!!!!
Respondia o comprador:
-...mas eu não quero ir a Paris!!!
ou seja, o vendedor apresenta factos correctos mas para "janela de percepção" errada. Em complemento, raciocínios errados e/ou lógicas deturpadas provocam "janelas de percepção" distorcidas.
Como exemplo, um debate não é um jogo de futebol, o modelo do raciocínio perder-ganhar não pode ser o mesmo nos dois. O uso mistificador deste bug aparece, não só nos raciocínios de alguns comentadores, como também em análises "estatísticas" de resultados:
in "Jornal de Negócios" (on line) |
Num debate, a situação é diferente. O resultado são as opiniões criadas pelas "falas" de cada interlocutor nas pessoas que assistem, portanto, avaliar estatisticamente o "perder ou ganhar" só pode ser feito se for referido o grupo em que isso acontece.
No debate atrás citado entre PSD-PS, pode considerar-se três grupos diferentes de audiências com diferentes "janelas de percepção", entre outros, os votantes PSD, votantes PS e votantes indecisos.
Isto significa que argumentos e atitudes de valor positivo para uns (i.é., vitória) pode significar valor negativo para outros (i.é., derrota). A consequência é que afirmar vitória ou derrota sem precisar o grupo que o afirmou, significa que essa estatística é balela não é informação, o seu valor é apenas propaganda, consciente ou inconsciente.
Na prática,
√ - 100 pessoas PS a responder António Costa e 50 pessoas PSD a responder Passos Coelho, significa que A. Costa ganhou no grupo PS e P. Coelho ganhou no grupo PSD!
√ - 50 pessoas PS a responder António Costa e 100 pessoas PSD a responder Passos Coelho, significa que A. Costa ganhou no grupo PS e P. Coelho ganhou no grupo PSD!
ou seja, não se conclui nada acerca do debate, mas pode concluir-se que a pertença grupal PS e PSD estão firmes.
Por exemplo, a afirmação peremptória de recusa a consensos dita pelo candidato PS, pode ser uma vitória para o votante PS e uma derrota para o votante PSD mas, de qualquer modo, ambas são inócuas na mudança do voto já definido.
Porém, se se pensar no votante indeciso, isso poderá ser vitória ou derrota para o candidato PS:
√ - Se o votante indeciso, preocupado com soluções para o país, pensar que a recusa de consensos significa guerras e bloqueios e não construção colaborativa, significará derrota para o candidato PS (i.é., perda de um voto).
√ - Se pelo contrário, está farto de "bla-bla-bla" sem levar a lado nenhum e quer decisões firmes, significará vitória para o candidato PS (i.é., ganho de um voto).
√ - Se essa afirmação não lhe significar nada, ficará à espera da continuação para decidir (i.é., empate).
Em conclusão, pensar e analisar eleições com raciocínios de claques clubistas (válidos nesse contexto) é como ouvir um concerto de Mozart com sonômetros para medir decibéis, apesar de ser válido como análise de ruído nas fábricas.
II - O bug e os ilusionistas
A matéria prima das eleições são os eleitores. São eles que produzem decisões (votos) e com seus votos entregam o poder a alguém. Controlar as decisões (votos) é, portanto, controlar o mercado do poder político.
Este controlo pelas notícias baseia-se no encadeamento dos dois processos atrás citados, onde as notícias são o resultado de um e o início do outro:
Assim, o bug acontece porque os leitores apenas têm acesso ao segundo processo, o que permite o bug do Truque do Ilusionista. O exemplo clássico deste truque é a manipulação da atenção dos espectadores para olhar para outro lado e possibilitar mudar a cartola-coelho para a cartola-pomba.
No caso da notícia, impede-se que se pense no seu fabrico (esquema a preto) e se pense apenas no seu uso (esquema a vermelho) e o que poderá acontecer. Abandona-se o real e trabalha-se no virtual (vide vídeo final).
Esta manipulação é tanto mais fácil quanto mais a cultura vigente vive dentro de crenças (inside creed) e com cegueira e recusa à diferença (change blindness).
Este ilusionismo baseia-se no efeito já descrito de que toda a notícia produz no receptor uma realidade virtual a ser vivida como real. A manipulação resulta dos factos que circulam na opinião pública não serem exactamente factos reais, mas apenas virtuais construídos para ilusões.
Na balbúrdia informativa que nos rodeia desde jornais e revistas até TV e rádio, a propaganda inserida não se destina a comunicar, nem a informar, mas apenas a "anzolar" (ancrage) com ideias a percepção do receptor. Em linguagem simples é "pôr na mente" ideias activas, com o objectivo de atrair semelhantes e orientar decisões.
Paradoxalmente, quanto maior é a "bagunça" comunicativa, maior é a angústia e, portanto, maior é a atracção por pontos fixos, reconhecidos e repetidos como sucede com slogans, ladainhas e repetições. E assim o bug funciona.
Na vida política, a importância do real passa para 2º plano e a notícia passa para 1º plano. Com esta reviravolta, o novo actor político - 4º poder - instala-se com seus peritos de "ancrage" (anzolamento) e de produção de "virtuais" em diversas especialidades (relatores, comentadores, técnicos de imagem e comunicação, etc).
Como exemplo, um pequeno vídeo (5m) de um "Ilusionista", técnico de "ancrage" (Robert de Niro), Assessor do Presidente USA, a esconder um problema político dentro de outros mais atractivos com a ajuda de técnicos produtores de "virtuais" (Dustin Hoffman entre outros) do 4ª poder.
(Wag the dog com Robert de Niro, Dustin Hoffman).
Conclusão
Dantes, numa crise corria-se para a praça pública para ouvir o pregoeiro e, junto com outros, pensar no problema. Hoje, foge-se para casa, onde sozinho e em sossego, se enfrenta o jornal, televisão, internet e rádio. A informação aumentou e a comunicação baixou.
O poder de "pôr na mente" depende mais da avidez-angústia de quem ouve do que de quem relata. Por isso, gerir a avidez-angústia do receptor é uma fase importante da propaganda, como se vê claramente na estratégia seguida no filme "wag the dog" a que se refere o clip apresentado.
Em síntese, o mecanismo é:
1- a opinião colectiva dos cidadãos origina a eleição de representantes;
2- os representantes agem politicamente;
3- o massmedia analisa, critica e constroi notícias sobre a acção dos representantes;
4- os cidadãos recebem as notícias e constroem uma opinião pública;
5- a opinião pública transforma-se em opinião colectiva;
6- a opinião colectiva dos cidadãos origina a eleição de representantes.
Em esquema:
Não trocar os pés
A notícia é o fluir fundamental de informações que faz viver e alimenta toda a comunidade. Em qualquer sociedade, quando este fluir das notícias morre, a comunidade também definha e morre.
A junção sociedade-notícias pode ter quatro alternativas, três negativas (acumuláveis) e uma positiva:
NEGATIVA (1) - os políticos desinteressam-se do real como factor fundamental e actuam com os olhos postos no que acontecerá à opinião pública se tomarem esta ou aquela decisão.
NEGATIVA (1) - os políticos desinteressam-se do real como factor fundamental e actuam com os olhos postos no que acontecerá à opinião pública se tomarem esta ou aquela decisão.
O centro da Democracia deixará de estar nos problemas para estar nas imagens criadas na opinião pública pelas notícias. A Democracia torna-se dependente do mundo virtual.
NEGATIVA (2) - os cidadãos tornam-se "lazy thinker" (zombies mentais) e vivem centrados na "voz dos deuses", embalados pela "pertença a multidões" no padrão "se todos fazem, eu também faço". A História contém vários exemplos históricos.
NEGATIVA (3) - o poder instituído destrói as notícias que substitui por ladainhas indutoras de manipulação, com ou sem conivência dos profissionais da área. Existem diversos exemplos quer na História, quer em ficções literárias, mas a mais primitiva e primária é a censura "hard ou soft".
POSITIVA - As notícias vivem o seu processo natural de auto-condicionamento, ou seja, são sempre dependentes de quem as cria, por isso é fundamental serem cada vez mais e melhores. A segurança e confiança das notícias vem da sua diversidade e quantidade (modelo Democracia) e não da sua homogeneidade e/ou garantias da origem (modelo Ditadura).
A complexidade resultante não deve resolvida por simplificar as notícias, mas por aumentar a capacitação e potenciação dos cidadãos... NÃO CONVÉM TROCAR OS PÉS!!!
Continuação...
... a Democracia vive e alimenta-se desta complexidade das notícias, por isso é fundamental não ter "O nariz no umbigo"... e assim surge o 12º post.
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Indice do Blog
(com links para os posts já publicados)
Temporada 1 - Problemas
E a sociedade?
Alternativas pós-tradição
No princípio era o caos
A viragem da civilização
Fugindo da estupidez organizacional
A evolução aos "éssses
Temporada 2 - Soluções?
Não guiar pelo espelho retrovisor
Morreu o consensus, viva o dissensus
A técnica do Jazz e o dissensus
E assim, co-labora ou morre
E por fim, a democracia da cumplicidade
Aqui no futuro?
O 1º sonho
Video resumo: Nova Democracia